Blue Eyes IV

30 dezembro 2006

LÁ VEM O ANO NOVO... DE NOVO!










lisieux

O ano novo vem, se esgueirando,
assim, como quem não quer nada
já deixando, no finalzinho deste
prenúncios de esperança.

O ano vem... e mesmo que tenhamos
um grande medo do que nos espera,
ainda que nos sejam encobertos
os mistérios que envolvem cada dia
que jamais é igualzinho ao que passou,
nós já trazemos nos rostos o sorriso,
no coração o canto e, na mente,
projetos plenos de um porvir melhor.

O novo ano, já mostra a sua cara...
Tá logo ali, no descair do dia 31...
E com ele nos chegam novas chances,
novas nuances, novas cores, novos rumos,
novos perfumes, novos ares, novo cântico,
novas certezas e possibilidades.

Então, amados, vistamo-nos de sonho...
Encaremos de frente os desafios,
façamos careta pros problemas,
gargalhemos dos tropeços
e, de roupa colorida,
sal
ti
te
mos
pela vida!

BH - 28.12.06

Foto: Lili e Carol brincando no quarto...

21 dezembro 2006

Longo... mas vale a pena ler

LISTA DE NATAL
Frei Betto

Neste Natal, não quero o Papai Noel das promoções comerciais, das ceias pantagruélicas, dos presentes caros embrulhados em afetos raros. Quero o Menino Jesus nascido no coração da manjedoura, esperança acesa num pasto de Belém, Maria a cantar que os abastados serão despedidos de mãos vazias e os pobres saciados de bens.
Não quero o Papai Noel das lojas enfeitadas, do celofane brilhante das cestas de produtos importados, das garrafas em que os néscios afogam tristezas rotuladas de alegrias. Quero o Menino palestino em busca de uma terra onde nascer e viver, o Menino judeu arauto da paz na Terra aos homens e mulheres de boa vontade, o Menino poupado da estupidez das guerras.
Neste Natal dispenso abraços protocolares e sorrisos sob medida, sentimentos retóricos e emoções que encobrem a aridez do coração. Quero o amor sem dor, a oração só louvor, a fé comungada no sabor de justiça.
Não quero presentes dos ausentes, a litúrgica reverência às mercadorias, a romaria pagã aos templos consumistas dos shopping-centers. Quero o pão na boca da criança faminta, a paz que se alarga dos espíritos atribulados aos campos de batalha, o gozo de contemplar o Invisível.
Neste Natal, não quero essa pavorosa troca de produtos entre mãos que não se abrem em solidariedade, compaixão e carinho despudorado. Quero o Menino solto no mais íntimo de mim mesmo, semeando ternura em todos os canteiros em que as pedras sufocam as flores.
Não quero esse ruído urbano que esmaga a alma, os ouvidos aprisionados aos telefones, o olfato condenado por odores insalubres,a boca em cascatas de palavras inúteis, despidas de verdade e sentido. Quero o silêncio indevassável de meu próprio mistério, o canto harmônico da natureza, a mão que se estende para que o outro se erga, a fraternura dos amigos abençoados pela cumplicidade perene.
Neste Natal, não me interessam as oscilações dos índices financeiros, as promessas viciadas dos políticos, os cartões impressos a granel, cheios de colorido e vazios de originalidade. Quero as evocações mais ternas: o cheiro do café coado de manhã por minha avó, o som do sino da matriz, o rádio Philco exalando sabonete enquanto a babá me via brincar no quintal.
Não quero as amarguras familiares que se guardam como poeira nas dobras da alma, as invejas que me alienam de mim mesmo, as ambições que me tornam triste como as galinhas, que têm asas e não voam. Quero os joelhos dobrados no átrio da igreja, a cabeça curvada ao Transcendente, a perplexidade de José diante da gravidez inusitada de Maria.
Neste Natal, não irei às ruas febris dos mercadores de bens finitos, nem disfarçarei em algodão a neve que se amontoa em meus dissentimento ou prenderei falsas sinetas no frontispício de minha indiferença. Quero o segredar dos anjos, a alegria desdentada de um pobre reconhecido em seu direito, a euforia imaculada de um bebê acolhido em braços amados.
Não viajarei para longe de mim mesmo, à procura de uma terra na qual eu próprio me sinta estrangeiro, falando um idioma cujo significado me escapa. Mergulharei no mais profundo de minha subjetividade, lá onde as palavras se calam e a voz de Deus se faz ouvir como apelo e desafio.
Neste Natal, não entupirei o meu verão de castanhas e nozes, panetones e carnes gordas. Nem deixarei o que me resta de sensatez resvalar pelo gargalo de uma bebida destilada. Porei sobre a mesa Deus fatiado em pão, a entornar de vinho cálices alados, e convidarei à festa os famintos de bem-aventuranças. Não rezarei pela bíblia dos que professam o medo, nem acenderei velas aos guardiões do Inferno. Não serei o alpinista de cobiças desmedidas, nem o coveiro de utopias libertárias. Desfraldarei sobre o telhado a bandeira de sonhos inconfessos e semearei estrelas no jardim de meus encantos, lá onde cultivo essa doce paixão que me faz sofrer de saudades do que é terno.
Neste Natal, farei de minhas gravatas uma imensa corda para enforcar o cinismo das convenções sociais e descerei um por um os degraus dos podres poderes, até ingressar nos subterrâneos repletos de luz dos servos da esperança. Não sonegarei sentimentos e encantos.
Andarei nu pelas ruas para que todos vejam como o tempo enrugou delicadamente a minha pele, imprimiu flacidez a esses membros prenhes de história e cobriu-me de pêlos alvos como o frescor da velhice coerente.
Não aceitarei os brindes de mãos que não se tocam, nem irei às ceias dos que se devoram. Não comerei do bolo que empanturra corações e mentes, nem deixarei que a aurora do Menino me surpreenda empanzinado de sono. Alimentado como um pássaro, sairei na noite feliz guiado pela estrela dos magos; dançarei aleluias entre as galáxias da Via Láctea e, pela manhã, em cada raio de sol injetarei poesia para que todos acordem inebriados como se fossem borboletas livres do casulo.
Pisarei cuidadoso entre mortos inocentes e alentos frustrados, e haverei de conferir no monitor eletrônico quantos foram os dissabores disseminados pela fera disfarçada de humano.
De mãos dadas com o Menino, deixarei que as águas lavem o avesso de minha pele e, em seguida, caminharemos silentes rumo ao futuro. E eu estarei com os olhos fixos no Menino para que seu verbo se faça carne em meu coração de pedra, cuidando para que ele cresça despregado da cruz, exaltado pela vitória inelutável da Ressurreição.

17 dezembro 2006

Uma oração, enquanto espero o Natal

Senhor, cuida de nós...
Cuida, Senhor, das pobres criancinhas, sem lar , sem pais e sem país... abandonadas e esquecidas, magras e de olhos tristes... que não têm casa, comida, nem roupa pra lavar...
Cuida, Senhor, dos pobres, miseráveis, marginalizados, explorados, dos que nada têm e dos que nada pedem... porque não têm vez, nem voz... nem espaço, nem tempo...
Cuida, Senhor, dos cegos, dos paralíticos, dos surdos, dos mudos, dos que não têm como erguer os braços: nem empunhando armas, nem através de orações...
Cuida, Senhor, dos que sofrem injustiça, dos que são oprimidos, dos que se curvam diante da tirania e nem se sabem no direito de protestar... porque não lhes foi ensinado...
Cuida, Senhor, das feridas do corpo... advindas da falta de comida, dos maus tratos, da falta de terra, da falta de teto... de abrigo, da falta de cuidados... da falta de leis...
Cuida Senhor, dos que não têm pão, dos que não têm vinho, sinais de comunhão contigo... não porque não querem mas porque até este direito lhes foi tirado...
Cuida dos que não têm religião, nem sonhos, nem fé...e que ainda acham que as guerras que lhes tiram tudo, podem ser feitas em nome de Deus...
Cuida Senhor das feridas da alma... produzidas pelo braço que oprime, pelo dedo em riste, pela mão não estendida, pelo descaso, pela indiferença, pelo ódio...
Cuida, Senhor, dos loucos, dos alienados, dos que não entendem o porquê do seu sofrimento e que ainda se acham devedores de alguém...
E, principalmente, Senhor... cuida dos que oprimem... dos que fazem as guerras... dos que são responsáveis pela legião de mortos-vivos, produzida pela sua insensatez...
Cuida, Senhor, da Tua obra... da Terra, planeta azul e lindo... do homem, coroa da criação, mas eterno insatisfeito... e liberta-nos do ódio pelo poder do Teu amor...
Cuida, Senhor, de MIM... pra que eu nunca aceite compactuar com a injustiça, com a opressão, com a guerra, com a morte... para que não me falte coragem nem vontade de erguer-me a favor dos Teus pequeninos...Cuida, Senhor... de todos nós...livra-nos do mal e dá-nos hoje e para todo o sempre a Tua PAZ!