Blue Eyes IV

29 janeiro 2006







LUAR
lisieux

Rainha sou das tuas noites claras
no céu me mostro, dando-me a ti
e tu me olhas, a mim te declaras
e me reparas, louco frenesi...

dispo-me e a ti of'reço o meu amor
qual uma maga, a te enfeitiçar
e tu te espreitas, ficas ao redor
por meus carinhos, sempre a suspirar

a própria lua eu sou, tu sabes bem
o brilho meu é o mesmo qu'ela tem
com minha luz tu podes prosseguir

Desfruta então, o meu amor com gosto
e ao olhar o céu de fim de agosto
vê meu olhar de prata a te seguir.

BH - 29.08.03

22 janeiro 2006












INSTANTÂNEO
lisieux

Tarde calada,
fria,
a r r a s t a n d o - s e . . .

Manto de sombras
cobrindo a copa
das árvores.

Teus olhos-coruja
espreitam-me
em meio às
..............folhas...

BH - 24.05.05
05h33m

20 janeiro 2006


















ORQUESTRA
lisieux

O vento orquestra as canções da mata
folhas e sapos, fazem serenata,
árvores gemem enquanto a chuva cai...

Águas, em quase todos os estágios:
Líquidas, barrentas, gasosas, gélidas.

Nevoeiros, tempestades, cachoeiras
descem gritando pelas ribanceiras.

E também eu derramo as minhas águas
Salgado
........sabor
............de saudade.

Nova Friburgo, 24.01.05

18 janeiro 2006




















COMO TE AMEI!
lisieux

Amei-te
assim, devagarinho e docemente
como ensinou o poeta,
saboreando o amor aos bocadinhos...

Amei-te
acomodando-te entre os braços,
dando tratos à imaginação,
alinhavando sonhos,
velando-te o sono, nas noites eternais.

Amei-te
de forma inconseqüente e leviana,
também amei-te intensamente e sem limites;
dual e passional como todas as mulheres.

Amei-te
com a delicadeza azul
das begônias nas escarpas
com a suavidade da brisa das manhãs
e com a impetuosidade das marés
em tardes tempestuosas.

Amei-te...

Percebi os teus instantes
e tuas idiossincrasias,
tuas fragilidades e tua força.
Sequei o teu caudal de lágrimas
e me perdi na alegria do teu riso.

Amei-te...

Amei-te tanto
e tão completamente
que é totalmente incompreensível
não me teres
..............amado também...

BH – 10.03.05

17 janeiro 2006















VISITAÇÃO
lisieux

Os tons pastéis anunciam a aurora.
Claridade luta para perfurar a camada de escuridão.
Tristeza vem me visitar.
Entra sem bater, sorrateira, põe olhos interrogativos na minha sala de estar.
Folheia meus livros, ouve meus discos. Fareja os meus lençóis, afofa os travesseiros.
Revira panelas, torce o nariz para os pratos sujos amontoados na pia.
Imiscui-se em meu banheiro, molha os pés, tropeça na montanha de toalhas úmidas, largadas no chão.
Fuça o meu lixo: Lê frases soltas de poemas rascunhados nos papéis amassados, cheira o odor fétido de flores murchas...
Tristeza tem olhar de condenação.
E, enquanto passa em revista os aposentos vazios, tão cheios da tua ausência, ela me diz silenciosamente:
- Nunca mais!

BH - 20.02.04

Estou revisitando alguns poemas antigos, enquanto dou uma garimpada nos mais novos. Tenho achado tudo o que escrevo horrível ultimamente... rs - Mas, sei que é uma fase de mudança, comum a todo começo de ano... logo, tudo entra nos eixos. Espero!
Bjokas
lis

15 janeiro 2006













REFLEXOS
lisieux

Não vi meu reflexo na vitrine,
não pude me reconhecer no vidro frio,
nem mesmo sombra tinha
sob a branca luz fluorescente.

O "teipe" da minha vida
tantas vezes reprisado,
inutilizou-se...
partiu-se a fita, de tão gasta.

Fogos não espoucam...
cores não se elevam,
............................artificiais...
Nem azuis, nem amarelos
se traduzem.

A fatal verdade é que,
observando a procissão da vida,
serpenteando adiante e após mim,
só via refletidos
tantos “tus”,
todos inscritos,
em (des) graça da minha
...............................solidão

BH 13.10.03
3h52m
(Inspirado em Vitrines, de Elane Tomich)

Esse é meio velhinho, mas gosto dele. E hoje me lembrei dele, por causa do comentário do Maini, à época em que o postei na PV. Transcrevo o comentário tb, porque hoje pensei muito em psicologia e nos nossos "eus" interiores...

"Lis : Poema profundo, de reflexão.Como dizem alguns psicólogos: o mundo é um espelho.Vemos nele o que se passa dentro de nós.Viajando, mais um pouco na psicologia, os vários "tus" que vias não seriam partes de tua alma,ainda, não integradas? - Bjão, Ricardo Mainieri "

Diga aí o que vc acha, Romero, meu psicólogo de plantão...

14 janeiro 2006



















PERCEPÇÃO
lisieux

Precisavas conhecer-me
inteira
póros, reentrâncias,
saliências
e conhecer
pequenas indecências,
as ganâncias
e sutis besteiras
que nos fazem
seres
......completos...

Precisavas perceber
nuances,
sutilezas,
reconhecer as sombras
e as luzes...
enxergar além
da vã beleza
do corpo.
Poder ver
o que se abriga ali,
dentre os escombros:
brilho
em meio à escuridão
........................do tempo...

Precisavas saber...
ter a certeza
de que eu era
e que seria sempre
a mesma:
embora madura,
menina
embora gasta,
sempre nova
embora experiente,
deslumbrada
com a eterna novidade
que habita
..............cada manhã...

Enfim...

Precisavas apenas
amar-me...
e eu
.....iria!

12 janeiro 2006














CADEIRA VAZIA
lisieux

A imagem que eu tenho
na memória
parece bem melhor
que a realidade:
tão larga, tão bonita...
.......- claridade -
tão cheia de canções
e poesia...

Hoje não tenho o brilho,
nem o sonho.

Tenho somente
o verso que componho
e a lembrança
da cadeira,
hoje
.....vazia.

BH - 27.09.05

11 janeiro 2006












Continuando a série de ditados:


"Quem não ouve conselho, ouve coitado!"
lisieux

I sso não se faz, eu sempre digo
S apeca, ela nem liga ... e eu prossigo
A dizer que um dia vai se machucar.
B em que eu conheço essa cor, essa magia
E muito tempo eu tive essa mania.
L ivrei-me dela... não quero mais brincar.

D esejo que você também perceba
E ssa mentira em que a net nos enreda...

C ria um mundo todo só de fantasia,
A cena com amores de novela,
S acia a nossa sede de euforia,
S emeia flores perfumadas, de aquarela...
I nteiramente ela abala o sentimento...
A té que venha, um belo dia, o sofrimento.

BH - 10.01.06

09 janeiro 2006














SACO VAZIO NÃO PÁRA EM PÉ
lisieux
(texto feito para o tema proposto pelo Luna e Amigos: "Fome no mundo e o mundo da fome)

"Vira e mexe" eu me lembro de algum dito da vovó Bela (aliás, apelido perfeito pra uma pessoa bonita por fora e por dentro). Sábia, ela sempre guardava alguma máxima na manga a fim de encerrar com fecho de ouro qualquer das nossas brigas e discussões sem sentido:
"Menina, dá logo um pedaço de bolo pro seu irmão, porque 'quem tudo quer, tudo perde"...
"Menino, não fale assim com sua mãe, porque vc é igualzinho a ela... não sabe que 'quem não parece com o dono é furtado?"...
"Minha filha, não teime comigo, porque 'quem não ouve conselho, ouve coitado!"...
"Meu filho, não seja avarento, porque 'quem dá aos pobres, empresta a Deus"...
E, lá ia ela, dando um conselho aqui, um abraço acolá e sempre desfiando a sua ladainha de ditados acumulados ao longo dos seus muitos anos.
E ela não tinha nenhuma simpatia por política... sempre via o noticiário da TV e fechava a cara para os políticos mineiros, "aquelas raposas velhas".
Lembrando-me da minha avó, dos seus ditos e da sua aversão pela política (tão diferente do interesse e engajamento dos netos que, desde jovens, gritavam slogans contra a ditadura e se alistaram nos centros estudantis), eu fico pensando em como ela ragiria aos políticos de hoje.
Em como ela olharia o operário barbudo e quase analfabeto como ela própria, dirigindo a nação e pondo a perder a oportunidade única de consolidar nossa ainda tão frágil democracia e fazendo muita gente, vergonhosanhosamente, sentir saudade da ditadura...
Fico pensando em como ela veria a miséria e a fome no Brasil e no mundo, ela que sempre fez questão de uma mesa farta para filhos e netos, pois já fora pobre e que nunca negava pão a algum eventual pedinte que lhe batesse à porta...
Fico pensando em como ela veria as guerras religiosas e as crianças raquíticas, ela que sempre foi temente a Deus e rezava toda noite por parentes, aderentes e mesmo estranhos, a fim de que eles tivessem casa, família e amor.
O que isso tivo tem a ver com o tema proposto no Lun'as, sobre "Fome no mundo e o mundo da fome?", vocês estarão se perguntando...E eu respondo: Tudo a ver!
Porque tenho certeza de que minha avó diria ao Lula e aos demais governantes de hoje, quando os visse nos palanques falando de Fome Zero, de pendengas religiosas, de brigas por petróleo ou pela posse da floresta amazônica:
"Peraí, ô meninos irresponsáveis... parem logo de bater boca inutilmente e de querer enganar o povo com a sua conversa fiada... tratem de botar comida na mesa do povo, ou a "vaca vai pro brejo"... Ou será que vocês ainda não sabem que 'saco vazio não pára em pé"?

BH - 06.01.06

07 janeiro 2006



















ANGEL
lisieux

Asas?
Ele não possui;
não as herdou de ninguém,
nem pode elevar-se aos céus
pela pureza, ou pela perfeição
pois não as tem...

Ele não tem
lindas madeixas loiras
nem olhos azulados
como o céu.
Também não sabe cantos
de acalanto
doces como mel...

Mas tem um jeito assim
tão inocente
não fere com palavras, nunca mente
e suas mãos me tocam
como asas...

Com ele vôo, sim,
no pensamento.
Ele me eleva aos céus
por um momento,
etéreo e eterno
quando ele me abraça.

A sua voz
é música de banjo...
Engana-se quem diz
que não é
Anjo!

BH - 06.01.06

06 janeiro 2006










PALHAÇO
lisieux

Nunca gostei de palhaço.
Nunca gostei daquela cara pintada, a esconder a tristeza.
Palhaços, na verdade, nunca me enganaram. Ainda criança, enquanto as demais riam das piruetas e das piadas repetitivas, eu ficava a olhar aquela face branca de boca desenhada e nariz vermelho e pensava, com os meus botões:
"A quem ele pensa que diverte? Coisa mais sem graça esse marmanjo vestido de criança e tentando ser engraçado".
Assim, toda a minha vida tive birra desse ser caricato.
Até que...
Até que a vida fez-me também um palhaço.
Um dia, vi-me obrigada a mentir. E, embora me sentisse mal no primeiro momento, acabei me acostumando. Afinal de contas, não se pode dizer a verdade todo o tempo. Como dizer àquela senhora que o cabelo recém-pintado está horroroso, ou àquela criança que o pai, do qual ela tanto se orgulha e quer imitar, é um canalha?
No outro dia, vi-me obrigada a dizer coisas "engraçadas" quando tinha vontade de chorar... Senti-me péssima, claro! Mas, como dizer à minha avó que ela estava com câncer e que, em pouco tempo, ia morrer? Preferi contar-lhe um dos causos mineiros de que ela tanto gostava e ver, talvez pela última vez o seu sorriso, do que fazer o que eu tinha vontade no momento, que era apertá-la com força junto ao peito e chorar.
Outro dia, ainda, vi-me obrigada a colocar uma máscara de falsidade no rosto e dar um lindo sorriso, quando me roía de raiva por dentro. Afinal, como fulminar com palavras grosseiras o homem que era o meu chefe, se eu precisava tanto daquele emprego a fim de ajudar a família?
E, finalmente, um dia percebi que eu era tão pateticamente sem-graça quanto o palhaço que eu sempre odiara. Aliás, era ainda mais... porque o palhaço, pelo menos, fazia toda aquela encenação no palco, a fim de arrancar risadas das crianças e garantir a sua subsistência...
E eu, pobre de mim, nunca ganhei um tostão sequer, para fazer meu show...
e a minha platéia, jamais me aplaudiu...

BH - 06.01.06
03h38m

05 janeiro 2006
















ORQUESTRA DAS ÁGUAS
lisieux

O vento orquestra as canções da mata
folhas e sapos, fazem serenata,
árvores gemem enquanto a chuva cai...

Águas, em quase todos os estágios:
Líquidas, barrentas, gasosas, gélidas.
Nevoeiros, tempestades, cachoeiras
descem gritando pelas ribanceiras.

E eu também derramo as minhas águas:

Salgado
sabor
de saudade

Nova Friburgo - 24.01.05



04 janeiro 2006



















ANOS 70
lisieux

Meu submarino amarelo
não singra mais os mares
e vc não pode mais salvar
meu coração partido...

Is too late...

The Beatles, já morreram
assim como Hendrix e Joplin...

A nossa calça Lee
ficou tão desbotada
que acabou por se rasgar...
as velhas botas furaram
e não usamos mais
cabelos longos...

Aquela nossa guitarra
agora jazz
esquecida nalgum canto...
e eu só canto
blues...

BH - 04.01.06

03 janeiro 2006

ESCREVENDO A ESMO
lisieux

Ah... deu-me uma vontade
de escrever assim
sem pontuação,
sem métrica,
sem preocupação
com regras de gramática...
Assim, sem ter motivo
nem temática,
apenas pondo letras no papel,
deixando, amigo,
que as palavras brotem,
sentimento jorre,
saudade se avizinhe...

Ah! Deu-me vontade
de voltar no tempo,
de tocar Credencer
e lembrar os Beatles...
Veio morar lembrança
em meu caderno...
Deu-me saudade
dos amores jovens,
serenatas, beijos escondidos
atrás do muro... lembras?

Ah! Deu-me vontade
de abraçar-te
em noites de sereno,
de escutar-te a voz,
ver teu sorriso...
e de voltar a ter 18 anos!

Ms meu meio-século
insiste em me lembrar
que eu cresci...
caiu em si ao te reencontrar...
E a nostalgia
bocejou e abriu os olhos
lá no recôndito
dos meus porões...

BH - 03.01.05
(pra um amigo da adolescência, Romero)

02 janeiro 2006

BOUQUET DE AMIGOS
lisieux

Ganhei de Deus uma porção de amigos
que sempre me acompanham onde eu for
que do meu lado lutam, nos perigos
e que comigo sofrem a minha dor.

Amigos que perfumam minha estrada
e que alegram o jardim do meu viver
que tornam menos árdua a caminhada
e amenizam os momentos de sofrer

Buquê de amigos, perfumado e belo.
O presente mais precioso, mais singelo,
que eu ganhei das mãos do Criador...

Buquê feito das flores preferidas
que enfeitam e alegram a minha vida
e que merecem todo o meu amor.

BH - 17.12.05

01 janeiro 2006

FELIZ ANO NOVO
lisieux

Que o ano novo te traga
muito calor e harmonia...
sem dor, sem nenhuma praga,
somente um mar de alegria.

Que todos os teus anelos
sonhados na intimidade,
sejam reais, puros, belos,
te tragam felicidade.

Que tenhas também dinheiro...
que sejas bom companheiro,
tenhas muita diversão.

Que mantenhas pura a alma...
que tenhas saúde e calma,
paz e amor no coração.

BH - 31.12.05 - 01.01.06